Qualidade Vivida

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

"Saudade de mim adolescente"

"Senti saudade de mim mesma naquela época"
(Cecília de Castro )

          Eu fiquei inquieta depois que ouvi essa frase. Enquanto não assisti Tim Maia, não sosseguei. E pensava sempre: também quero sentir saudade de mim, "ontem"! Desde então, muita coisa foi me reportando à minha juventude, na minha memória: parque de diversões, amigos, reuniões em casa (chamávamos de "hi-fi"), patinar no Roxy Roller, dormir na casa de amigos, assistir os campeonatos de natação e de Pólo Aquático no Parque Desportivo da Gama Filho, ouvir música com o headfone, na saleta da casa da amiga Zeneuda, em Copacabana, depois partir para aquela corridinha no calçadão... Pois é... Senti saudade de mim, lá! Passar pela Siqueira Campos, depois dessa frase, me remete ao final dos anos 80. Época em que entre os meus programas preferidos estava ir à "Mamute", na Tijuca, assistir Kid Abelha, RPM, Metrô... 
          De tanto que eu falei dessa saudade de mim, minha filha conseguiu arrumar um tempo para assistir ao filme, comigo. No caminho, eu disse pra ela: 
"- Filha, não conheço ninguém da minha época que não tenha cantado Tim Maia sem emoção na voz!"
"- Mãe, até eu canto Tim Maia. Lembro do dia em que ele morreu e sei cantar quase todas as músicas."
          E assim fomos ao cinema, assistir nosso querido Tim Maia. Alguém uma vez me falou que é sempre prudente ficarmos de fora da vida privada dos nossos ídolos. Tim Maia não é propriamente um ídolo, eu nunca fui chegada nessa coisa de colocar o outro em pedestal. Mas esse cara fez diferença na minha vida com suas músicas... A mídia sempre divulgou a parte descomprometida dele e isso eu não curtia muito. O único show dele que eu fui foi no Hotel Nacional, em 1989 e ele estava lá... Foi perfeito!
          Começou o filme e com ele a história com as drogas e o descomprometimento com o público. Contudo, foi bacana saber que o entregador de quentinha era o dono da voz mais potente que eu já tive o privilégio de ouvir ao vivo! Os gênios são assim: se perdem deles quando mais precisam de si. E com Tião não seria diferente. Na minha vida ele foi o dono de algumas trilhas sonoras que embalaram alguns amores... E hoje? Bem, sou feliz, a-go-ra!



sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Viver bem, por mim...




Não uso armaduras, não estou em guerra!
A minha transparência é o meu código de honra, mas só pode lê-lo quem eu permitir...
A minha casa revela um pouco de mim...
Compartilho flores e falo apenas de amores, é disso que o mundo que eu habito precisa!
Religião é necessária para quem não consegue sentir Deus por conta própria.
A minha maior dívida será sempre comigo mesma, infelizmente sou o meu maior algoz!
A minha família é fantástica, amorosa e enrolada: do contrário não seria família, tampouco minha.
O meu amor está sempre comigo, mas nunca pretendi saber se estou sempre com ele...
Fumaça só de comida fresquinha, bebidas quentes e do meu banheiro em dia frio.
Quer viver bem? Primeiro descubra o poder do orvalho da manhã no seu corpo, depois olhe o céu por duas semanas e conte quantas estrelas cadentes você viu.
O resto? É receita de bolo...


domingo, 21 de setembro de 2014

Estar junto ou amar? Ou amar estar junto?


Amor...
tão simples e impressionante,
a ponto de te tocar muito mais
que o toque em si
(Márquez, Vinícius. Segundos Depois. Ed. Livros Ilimitados)

Algumas pessoas não entendem que estar junto é uma escolha e não uma obrigação. Ou pelo menos deveria ser...
Em recente bate-papo com amigos da minha faixa etária, alguns disseram: não é tão simples assim, Claudinha! Você diz isso porque é solteira. Ainda teve um outro que completou: "Pessoal, ela diz isso porque é solteira, ou ela é solteira porque diz isso, tipo biscoito Tostine?  Essa aí vai morrer sozinha, se amarra bancar de liberal e bem resolvida" (eu sei que ele está lendo isso agora e pensando: não acredito que ela publicou!)... 
Pois é... Errado! Não banco de liberal, tampouco de bem resolvida porque não sou, estou - e isso não é uma mera questão semântica, mas aprendizado de vida! Tenho os meus grilos, e quando estou namorando sinto ciúme também! O ciúme é natural quando se ama. Pessoas não são coisas, logo, não deveríamos tratá-las como propriedade privada - seria uma violência! O que não podemos é permitir que o ciúme atrapalhe a relação, porque por maior que seja o amor, quando ele é invadido por desconfiança, fruto do excesso de imaginação do companheiro, a relação começa a morrer. O amor que não é cuidado perece. Agora, mesmo cuidando, alguns amores simplesmente acabam e é preciso deixá-los ir para que um próximo amor possa chegar: dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço do coração!
Um dos meus maiores aprendizados (e a idade somada à experiência de vida ajudam bastante nesta questão) foi entender que quando uma relação termina para um dos dois ela termina para o casal! Filho não deve ser motivo para segurar casamento. E quando um dos pares usa o filho como ameça ou escudo ele está sendo desleal com ele, com o par e com o filho. Para mim, nada é mais importante que o amor. A família existirá independente dos pais estarem ou não juntos matrimonialmente. Acho que essa geração que está na faixa dos 20 e poucos anos está muito mais preparada para vivenciar o casamento com plenitude do que a minha geração, de modo geral evidentemente, porque hoje eles têm muito mais permissão para amar. Mesmo quando não têm o discurso dos pais, neste sentido, dentro de casa, existe no imaginário coletivo a defesa da estruturação da família por amor, seja ela qual for: entre homens, entre mulheres, entre homem e mulher. E isto se deve ao mundo globalizado. 
Voltando a minha frase inicial: estar junto é uma questão de escolha, agora amar é encontro! E para mim, divino é estar junto de quem nós amamos e ter sabedoria para mantermos a relação com harmonia, para que ela dure muito tempo...


terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tempo: compositor de destino...

Tem uma cena no Banquete, de Platão, que me emociona muito, que é quando Aristófanes define a origem de Eros como sendo o que está a procura do outro, e, para ele, Eros é o mais amigo do homem. Nesta origem, eram três os gêneros da humanidade, e não como agora, o masculino e o feminino. Havia um terceiro, comum a estes dois, o "andrógeno", que era diferente na forma e no nome. No início, dizia ele, éramos compostos de duas partes, ou todas as duas masculinas, ou todas as duas femininas, ou uma metade feminina e a outra masculina, que foram separadas por Zeus. Desta forma, o Amor para Aristófanes (que era um comediante) seria uma espécie de busca pela metade que se perdeu e é aí que aparece, claramente, a função desejante de Eros pela primeira vez, entre os discursos do Banquete.


     ...O motivo disso é que nossa antiga natureza era assim e nós éramos um todo; e portanto

     ao desejo e procura do todo que se dá o amor (Platão.O Banquete. 193 a)


Pensar em Eros como Amor e como Amigo é tão profundo e tão completo... Muitas são as metáforas platônicas que me encantam, certamente... Ter passado boa parte da minha vida apressada por esse encontro, me afastou dele terrivelmente... A minha metade homem precisava trabalhar para colocar dinheiro dentro de casa. A minha metade mulher precisava passar, lavar, cozinhar, arrumar a casa, colocar as crianças para a escola e ainda ensiná-las a se virarem, posto que ensinar a ler, escrever e contar não era função minha, mas da escola. A mim cabia tão somente dar estrutura para que a aprendizagem acontecesse, e quando falo de estrutura me refiro ao termo no latu senso: amor, carinho, lar, comida na mesa, respeito ao próximo, etc, etc, etc...

E nessa mistura de gêneros que me foi imputada tão marcadamente em suas funções: o homem é o que trabalha fora e a mulher a que cuida da casa e dos filhos, eu construí a minha identidade masculina e feminina. O problema foi que elas sempre estiveram tão ocupadas que nunca se encontraram... E assim, não fizeram amor, não foram amigas, não se ajudaram na saúde, porque simplesmente não se conheciam. Foi preciso me deixar adoecer para que elas finalmente se encontrassem.

A quem pertence o tempo? Quem o fabricou? Para que me deixei ser controlada por ele, como se ele fosse um agente externo?

Sim... foi ter compreendido que sou eu quem o defino e priorizo, logo o governo, que tornou-se possível o encontro das minhas duas metades, em mim... Tempo: compositor do meu destino...





terça-feira, 2 de setembro de 2014

limites ilimitados

Existe maior soberania do que a de encontrar um caminho próprio para percorrer?
Durante um bom tempo neguei Wittgenstein por ter dito que "os limites da (nossa) linguagem denotam os limites do (nosso) mundo". Quando estou diante de algo que me inquieta muito, meu primeiro comportamento é negá-lo, depois, quando volto para este algo, sempre me dou conta de que existe nele uma enorme quantidade de mim. Minha segunda reação é defender-me. Mas de quem senão de mim mesma? E aí vem a melhor parte: a superação das minhas limitações...
Me dê miolo de boi para comer, mas não me desafie... Evidentemente que esse desafio tem que ter eco em mim... Os desafios externos não me afetam, mas tão somente aqueles que me colocam diante das minhas fragilidades. Estes sim me transformam sobremaneira! Percebam que eu disse fragilidade e não fraqueza. Não pretendo ser forte, mas potente!
Hoje, qualquer lugar do planeta que eu esteja estabeleço comunicação ainda que eu não saiba o idioma. Pensa pequeno aquele que acha que se comunica apenas com o verbo.
Viaje...
Viaje de qualquer maneira: sozinho, em grupo, em par...
Mas se puder faça isso depois de ter viajado dentro de si!
Respeite-se antes de respeitar o outro - quando aprendemos a nos respeitar, percebemos o vigor que existe em respeitar hierarquias...
Limites existem para serem superados.
Portanto...
Supere-se,
Transforme-se,
E acredite: seu mundo pode ser ilimitado, até que você dê o último suspiro.
Faltará ar muitas vezes...
Mas e daí?
Se o último ar for vivenciando algo que você desejou com as suas vísceras,
Os limites do seu mundo foram muito maiores do que você pudia supor...


Foto da aula de Cross Training da Carol Vaz/ RJ/Rio de Janeiro

domingo, 31 de agosto de 2014

Rotina

Li, algumas vezes, que o bom escritor é aquele que encontra o momento certo para escrever, dentro da sua rotina. Hoje, atrevo-me a dizer que este momento está para além da rotina. Não é o momento certo dentro da rotina, mas a rotina adaptada ao momento certo.
Minha vida sofreu uma mudança de hábito radical depois do diagnóstico fechado de que sou portadora de Esclerose Múltipla. Meu médico orientou-me a importância de eu criar e respeitar uma rotina. Sou obediente, mesmo que para me livrar de ordens que me são inoportunas. Passei boa parte do meu percurso abominando rotinas e regras impostas. Porém, como fui atleta, aprendi a ter disciplina - o esporte exige isso de nós!
Depois dos meus 37 anos, fui me adaptando a uma nova forma de viver e tive muito êxito nisso! Mesmo com uma visão de apenas 10% de ambos os olhos, enxergava tudo que me fazia necessário para ter uma vida bacana. Depois dos 40, com a necessidade de ganhar dinheiro, precisei criar novas habilidades e que eu pudesse ter prazer em realizá-las. Nada tão simples para alguém que passou toda a vida lecionando e que nos últimos 10 anos, a disciplina era filosofia... A leitura sempre foi o meu instrumento de trabalho - gosto de dizer que a minha prática é teórica - e ela estava muitíssimo limitada agora... Foi quando me permiti escrever... Essa autorização veio de dentro. Não adiantava ouvir as pessoas me dizendo para eu fazer isso... Eu precisava acreditar que era competente para realizar tal tarefa! Tornar público um pensamento não é tão simples assim... Quando publicamos damos licença ao outro para criticar a nossa obra. E que pai gosta de ouvir crítica do seu filho? Mais um aprendizado... As críticas podem servir de caminho para nossa superação. E foi assim que encarei. Não gosto do meu segundo livro. Por isso o retirei de circulação. Sei o quanto o primeiro precisa ser melhorado. Mas o terceiro me aponta mais maturidade na minha escrita. Eis que decidi começar o quarto... E vencer mais um desafio: uma história inteira. Não mais contos partidos e isolados...
E foi assim, escrevendo e lendo que me dei conta de que escrever profissionalmente é um trabalho que exige uma rotina diferente da que eu tinha antes - hoje "estou" privilegiada com uma visão que me permite debruçar nas leituras para muito além dos 10 minutos, sem enjoos ou dores, posto que recuperei boa parte dela.  Agora, durmo por volta das cinco da manhã e acordo perto das onze. Nunca precisei dormir muito para me sentir disposta e, ultimamente, por insistir em acordar às sete horas, andava exausta! Parei e me perguntei: para quê ou quem você precisa acordar às sete horas da manhã? É isso gente! E foi respeitando esse horário que eu encontrei disponibilidade interna para escrever. Quando começo o processo criativo normalmente todos já estão dormindo... E o silêncio da madrugada ecoa como música para os meus textos... Existe um narrador dentro mim!
O meu quarto livro está nascendo e conta a história de três amigos que se separam por força da vida e se encontram por força da amizade e do amor. Meus assuntos sempre são temperados pela filosofia. Foi ela, uma das responsáveis pela minha reconstrução...
Acredito que a vida deve ser assim para qualquer atividade que realizamos: um sucessivo encontro dentro do processo criativo, com as diferentes rotinas que as profissões demandam de cada um.
Cá estou, preparando vocês para acolherem em suas vidas mais um filho meu que irá nascer em breve...

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Para além de mim

"Da vida nada mais quero senão emocionar-me"
(Luíz Horácio)
E assim eu começo meu dia: lendo Doralina!
Logo na orelha encontro essas palavras da epígrafe, narrando o encontro da Editora com o autor! Ali me dei conta de que não dormiria enquanto não terminasse o livro...
E eu me emocionei sucessivamente sem cessar, até a última página!

"Quando me calo é para me ouvir melhor" (pág.48)

Calei-me! Profundamente... Durante quase meia hora interrompi a discussão que gritava, e alto, em meu pensamento. Meu silêncio se fez presente na meditação! Retomei a leitura no fim da página e fui direto, até o fim do livro. Capturei uma dor que não me pertencia, mas que se fez minha no momento em que a deixei entrar. A maternidade é mais que um estado do qual algumas mulheres participam! Ela deveria ser imputada a algumas de nós -  e deveríamos prestar mais atenção ao seu chamado; em algum momento da vida ele chega para quem precisa participar dela, deixando-a transbordar através do filho. O amor que sinto por minhas filhas está para além de mim. E, um dia, quando elas receberem o chamado da maternidade saberão do que estou dizendo. Por Luíz Horácio percebi a dimensão da importância desse amor chegar a um filho, quando a este lhe é dada a oportunidade dessa condição. Em mim, senti visceralmente estas palavras que vos digo.
Engravidar é um estado fisiológico que pode acontecer, mesmo quando se está impossibilitada de gestar. Quando segurei minhas filhas nos braços pela primeira vez comecei o engravidamento delas - nove meses depois da gestação... E ele continua... Em cada passo que elas dão... Engravidar é cuidar!
Parafraseando Cristina Jones: "Com ela (Doralina) chorei a dor que um dia sentirei sem deixar de ser filha. Chorei de imaginar a possibilidade de não receber nenhuma declaração de amor, tardia ou não."




quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Encontro

Não há ainda eficácia contra o amor, na maior parte dos casos, mais que este velho remédio radical: 
o amor recíproco
(Nietzsche. Aurora. 415 - "Remedium amoris")

A principal engenharia do amor encontra-se na arquitetura da sua construção. É simples este ponto complexo: se eu pretendo uma relação afetiva plena, algumas questões devem ser consideradas:
  • Encontrar o local adequado à construção -  um coração que esteja disponível para viver a reciprocidade do amor;
  • Verificar, quantas vezes forem necessárias, antes da construção, se o encontro amoroso está pautado na empatia, no respeito, na verdade acordada entre ambos e no desejo da mistura dos corpos;
  • Sugiro que o terreno seja propício à brincadeiras. O lazer será uma espécie de adubo da relação. Sem alegrias, as relações adoecem!
  • O resto... fica por conta dos amantes... 
P.S.: Cada casa deve abrigar carinhosamente os seus moradores. Dando um tom filosófico, eu vou chamar de casa afetiva a ética e de moradores dessa casa as morais que serão estabelecidas para serem abrigadas por essa ética.

P.S.2: Acredito que será difícil destruir um abrigo protegido e tão bem estruturado.




P.S.3: Amo essa imagem! Ela representa o meu modelo de casa... O importante é cada um encontrar o seu...
P.S.4: A vida é feita de encontros... Bons encontros geram alegrias...
P.S.5: Não conseguiria deixar Espinosa fora dessa...

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Amores são diferentes, nem por isso menores

Quem não estiver preparado para perder o trivial não é digno de conquistar o essencial. E, se formos amigos da sabedoria, descobriremos que o essencial são as pessoas que amamos...
(Augusto Cury)

E quando o essencial implica na escolha de quem amamos?
Em determinada época da minha vida tive que escolher entre permanecer com um amor ou com uma filha. Pode isso? Mas aconteceu comigo... A pessoa era tão ciumenta que via na figura da minha filha caçula a imagem do pai dela. Inicialmente tudo era incrível... Essa doença só apareceu quando a relação se estreitou e eu passei a compartilhar da convivência de todos juntos.
Amores são diferentes, nem por isso menores.
Quando o par chega ao ponto de pedir para escolher entre ele ou o filho, ele está disposto a perde-lo. Nesse caso, ele deixa de ser essencial e passa a ser contingente.
Mas... o que eu desejo mesmo é falar do amor que nos é essencial... aquele que sabe a diferença entre o amor de um filho e o amor do par. São amores que não se misturam, que não se ameaçam (ou não deveriam), que não se confundem... São amores fundamentais, essenciais, mas não pertencem a mesma natureza. É preciso respeitar cada forma de amar, posto que cada uma delas vale a vida da gente!



Perder...
Perder é ganhar!
Quando me perco, me procuro
Quando me procuro, me encontro
Quando me encontro, me analiso
Quando me analiso, me reconstruo
Quando me reconstruo, me melhoro
Quando me melhoro, todos ganham

Portanto, eu reafirmo, como na letra da música: "The greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return"
* "A coisa mais importante que se pode aprender é apenas amar e em troca amado ser."





sábado, 23 de agosto de 2014

O amor está além do "deve ser"

O amor é nossa liberdade. O amor está além do "es muß sein".
(Milan Kundera)

Não se deve amar sem se perder de si
Mas o amor não tem roteiro 
Não se deve amar sem ser amado
Mas o amor é feito de desencontros
Não se deve amar para além de si
Mas o amor é transbordamento
O amor não combina com regras...
Ele instaura em nós a capacidade de superação
E se eu não sei voar, eu invento!
"O amor é a nossa liberdade"

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Nunca pare de sonhar

O amor é o maior milagre que pode acontecer na vida de um ser humano...
A fé é a força que não nos permite desistir dos nossos desejos...
A vida é o melhor presente que um ser vivo pode receber...
Encontrar um par para caminhar é uma benção da Natureza!
Nunca, em hipótese alguma, abandone seus sonhos...


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Carta para José

Eu te amo, mas não gosto de você!
Eu te amo... Te amo com as minhas entranhas... Daria a minha vida no lugar da sua!
Mas não gosto de você!
Eu te amo independente do que você faça, do que você pense, do que você fale!
Mas não gosto de você!
Eu te amo de dia, de noite e por todas as madrugadas que eu passei ao seu lado quando você acordava assustado com um pesadelo ou tinha febre por conta da sinusite crônica...
Mas não gosto de você!
Eu te amo apesar da minha dor quando você insiste em me afastar da sua vida...
Eu te amo quando você rejeita um beijo meu...
Eu te amo quando você recusa meu carinho, meu abraço...
Eu te amo quando você deseja que eu desapareça...
E por tantas e infinitas coisas eu te amo... eu te amo... eu te amo...
Mas eu não gosto de você!
E quando você entender, filho, que o meu amor é incondicional, talvez entenda porque eu não gosto de você.
E talvez, a partir desse momento, você venha na minha direção e eu estarei aqui, pronta para dizer: Eu te amo e ponto!
P.S.: Sobre a rejeição de um filho por sua mãe...


terça-feira, 19 de agosto de 2014

O que fazer quando a tristeza é mais forte do que a vontade de sair da cama?

O que fazer quando a tristeza é mais forte do que a vontade de sair da cama?
Espreguice
Medite
Faça uma oração - não precisa ter religião ou credo... Orar significa elevar o pensamento à Natureza e conversar com ela , à sua maneira...
Ouça música! Boa música...
Respire fundo
Beba água
Por fim... Ou começo...
Levante-se...
Esse ritual ajudou a salvar a minha vida!
P.S.: Evidente que fui muito bem acompanhada por especialistas da psi... Nada substitui a assistência do médico e do psicólogo!

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Feliz aniversário, Mafalda...

Embora a nossa personagem tenha nascido para representar a fábrica de eletrodomésticos Mansfield, em 1962, através das tirinhas em jornais, com o objetivo de divulgar os produtos da empresa subliminarmente, muitos acreditam que ela tenha vindo ao mundo com o propósito de manifestação revolucionária por ser "defensora da humanidade e da paz mundial, famosa por seu inconformismo" em relação aos valores representados pela Argentina, sua cidade Natal. Seja lá qual for a vertente que desejarmos abraçar, o fato é que Mafalda é uma menina muito perspicaz e observadora, totalmente atemporal.
Minha personagem preferida, nasce da própria contradição de sua construção... Talvez por isso uma de suas marcas registradas seja a perplexidade diante das contradições do mundo. Ela faz 50 anos em setembro e continua sendo a minha menininha sagaz!
Maior semelhança é mera coincidência, como diz meu amigo Joper... 

     

domingo, 3 de agosto de 2014

Sobre o excesso

"... estar fora de mim, no momento em que vivencio o prazer é a inexorável e indizível experiência onde falto ao instante em que, teoricamente, estou presente. A presença aqui se estabelece na ausência do sujeito soberano! Estar sob ao que está sobre significa afirmar a presença na ausência, no exato momento da indistinção. Tal momento se realiza no gozo, por ocasião do orgasmo, onde eu e o outro nos tornamos um; ausentes de nossa consciência mergulhamos por instantes na plenitude absoluta do ser, como "água na água".
(Barbeito, Cláudia. Caminhos e Percursos)


Traição e fidelidade

Traição e fidelidade dizem respeito a mim mesma! Nem pensar em trair os meus desejos... os teus não me pertencem... cuide deles e serás eternamente fiel a si mesmo.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Recomeços


Recomeços sempre me inspiram...
Recomeços indicam possibilidades novas
possibilidades diferentes
possibilidades incrementadas pelas antigas histórias
mas antes de tudo, recomeços me sugerem possibilidades, sejam elas quais forem...
Perto dos cinquenta anos eu insisto em recomeçar - e jamais desistirei: a esclerose múltipla me deixou esse presente...
Caminho por novas estradas...
Busco no desconhecido algo de semelhante...
Supero minhas limitações
Jogo fora o que me aborrece
aprendo o que antes parecia impossível
mas... recomeço!
Duas estradas
Duas possibilidades
Qual escolher?
Como em um poema do Robert Frost "The Road Not Taken"
Escolho a estrada menos escolhida, menos transitada
Escolho o diferente...


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Eternidade

Muitas questões me inquietam... a felicidade, o amor, o bem... Elas passeiam em mim, ao longo do tempo, sem deixar marcas aparentes. A falta de compromisso acadêmico me traz hoje uma leveza para tratar dos temas. Geralmente destaco quatro filósofos - não por acaso - Platão, Agostinho, Espinosa e Nietzsche para relacionar ou apenas falar delas. Hoje, trago aqui um termo que é sinônimo tanto no significado como no sentido, em Agostinho e em Espinosa. Pois é... Dois filósofos que trilharam suas indagações filosóficas por caminhos tão diferentes se esbarram em uma palavra tão forte: Beatitude!
No latim, beatitude (beatitudo) é um adjetivo que significa "feliz, "sorte" ou "bem-aventurado", mas Agostinho e Espinosa a colocam para além de um estado, ela passa a ser uma forma de conhecimento, problematizada pela própria condição humana. Em "Cidade de Deus", Agostinho diz que "o homem não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade". Ele formulou uma teoria dogmática do conhecimento, enquanto Espinosa formulou uma teoria científica do conhecimento - escrita a maneira dos geômetras. Mesmo que por vias de conhecimento opostas, ambos tratam do termo "beatitude" como ato de intuição. 
Se por um lado Agostinho se propôs atingir, pela fé nas Escrituras, o entendimento daquilo que elas ensinam, colocando a fé como via de acesso à verdade eterna, por outro lado ele sustentou que a fé é precedida pelo trabalho da razão.
     
        "É necessário compreender para crer e crer para compreender"
 (Intellige ut credas, crede ut intelligas).

Espinosa, por sua vez, afirma que o terceiro e mais perfeito gênero de conhecimento - a felicidade/beatitude/intuição - só é possível de se vivenciar pelo exercício da razão, posto que somos seres racionais, evidentemente, muito embora ela, por si, não dê conta da vivência da felicidade. É uma espécie de transbordamento da razão; o terceiro gênero está nela, embora para além dela, uma vez que somos parte da potência que se manifesta criando, sendo criada e sofrendo as suas transformações em si mesma. 

"O esforço supremo da mente e sua virtude suprema consistem em compreender as coisas através do terceiro gênero do conhecimento" (Ética 5, Prop. XXV)


Agostinho defendeu que é possível alcançar a "verdade eterna" através da fé. Isso foi experimentado por ele através do exercício da razão. É na compreensão da verdade eterna que o homem encontra a felicidade. Ele afirma ainda, no diálogo "Contra os Acadêmicos" que os sentidos são fonte de verdade:

O erro...provém dos juízos que se fazem sobre as sensações e não delas próprias. A sensação enquanto tal jamais é falsa. Falso é querer ver nela a expressão de uma verdade externa ao próprio sujeito.

Espinosa defendeu que no terceiro gênero de conhecimento o ser humano é capaz de ver as coisas da perspectiva da eternidade uma vez que somos parte da potência de Deus. Como parte da potência divina somos deus, inclusive, no que diz respeito ao conhecimento que podemos ter da essência das coisas. É este conhecimento que ao se dá nos faz vivenciar a eternidade. 
Embora Espinosa chame o conhecimento de primeiro gênero de experiência vaga - aqueles que se dão através dos sentidos - ao mergulharmos na fala de Agostinho quanto aos juízos que se fazem sobre as sensações, podemos entender que no acesso produzido pelos sentidos, livres do juízo de valor que fazemos dele, ao elaborarmos as sensações pelos critérios da razão (segundo gênero) as experimentamos produzidas em nós, sem julgamento de valor, tal e qual ela é - parte entre partes, da potência produzida pelos afetos capazes de aumentar a nossa ação no mundo.

Ou seja, tudo isso, para dizer a vocês que as minhas inquietações filosóficas chegam ao absurdo de encontrar proximidade no pensamento de Agostinho e Espinosa. O fato é que para ambos felicidade e intuição são sinônimos de beatitude. Por vias diferentes... eternamente diferentes... Será?





quinta-feira, 3 de abril de 2014

Orgasmo ou Gozo?

Apenas um dia de chuva, aparentemente um dia como outro qualquer...
A chuva sempre me convida a repensar minha vida... Um ar bucólico me invade a alma roubando de mim meus mais doces sonhos... 
Aprendi a falar com os olhos, mas só comunico o que estou sentindo aos que me são queridos... Esses, geralmente, reconhecem o que acontece comigo só de olhar... Sem falar daqueles amigos de alma que mesmo longe sentem quando não estou bem... Bem? E o que é estar bem? Levando em conta que eu tenho uma saúde invejável, duas filhas lindas, inteligentes, deliciosamente amigas e bem sucedidas com as questões do coração, que além de tudo isso eu tenho uma casa bem bacana - simples, mas gostosa de se viver, pais saudáveis e acolhedores, amigos que eu posso contar de verdade - na alegria e na tristeza, na saúde e na doença -, uma profissão bem sucedida... Pensando de modo geral parece heresia dizer que eu estou com um vazio no peito... e o que pode estar faltando em uma vida tão bacana? Minha terapêuta diz que se há o vazio ele precisa ser ocupado... mas ocupado pelo quê? Já chegarei aonde vocês querem... mas antes, vou falar um pouco sobre uma conversa que tive pela manhã, com dois amigos...
"Depois que a criação nasce eu fico depressiva"; o "processo criativo é orgástico"...
Ouvindo isso falei imediatamente: se há a depressão em seguida do nascimento do processo criativo, fico com a sensação de que ele não foi orgástico, mas fruto de um gozo, apenas um gozo!
Quando sentimos alegria em seguida do ato sexual, podemos explicar essa sensação pelo processo neuroquímico que deriva disso; em outras palavras, sinal de que produzimos endorfina em grande dose e esta substância contribui para proporcionar uma sensação de bem-estar e tranquilidade semelhante ao produzido por algumas drogas como o Valium, por exemplo. Porém, o efeito é passageiro e o que decorre dele em seguida, pode, inclusive nem ser lembrado como agradável. É assim que acontece quando entregamos um projeto do qual estávamos apenas movido pelo compromisso profissional. Quando damos conta dele, acabar logo e bem gera uma sensação grande de alívio - cabe comparar esse alívio ao gozo, cabe dizer que a entrega proporcionou alegria.
Agora, se estamos falando de algo que mobiliza nossa energia, rouba nosso sono, nossos pensamentos, nossas horas vagas, estamos falando de algo muito maior... Não é apenas a entrega de um projeto, mas a entrega DO Projeto! Sim... aquele que nos causará orgulho pelo resto da vida, que nos lembraremos em qualquer ocasião, que sempre usaremos como referência ainda que outro chegue com a mesma mobilização... Quando concluímos "O" Projeto sentimos uma sensação prolongada de extensão nossa, nele... um filho, um casamento que é fruto de muito amor; a conclusão de um curso que decorrerá na nossa profissão... Todos esses exemplos geram em nós estado de felicidade. A sensação prolongada do prazer que se dá por ocasião do ato sexual é ocasionada pelo orgasmo. O gozo está para a alegria assim como o orgasmo está para a felicidade. Cabe aqui uma breve distinção entre alegria e felicidade. A alegria é a emoção proporcionada pela ocasião e/ou conclusão de alguma coisa que satisfaz uma necessidade daquele momento - gera alívio. Já a felicidade é a emoção que se dá em nós quando realizamos "sonhos". Gera conforto. O termo "sonhos" aqui está no sentido de projeto de vida, algo que planejamos com os nossos sentimentos inclusive, e quando realizado proporciona uma satisfação tão prolongada que pode passear por toda a nossa existência. 
Chegando perto do que vocês desejam ler... sim... me falta um amor! Me falta outro estado de felicidade que é fundamental em minha vida. Hoje, experimento, simbolicamente, o orgasmo quando:
  •  olho as minhas filhas dedicadas à alguma coisa,
  •  quando as vejo saindo com seus amores,
  •  quando as vejo estudando,
  • quando as vejo conversando uma com a outra sobre coisas que só pertence a elas,
  • quando termino um texto que brota de um conhecimento que eu venho pesquisando com afinco,
  • quando olho o álbum de fotografias e vejo a minha família - a que constituí com o pai das minhas filhas - reunida e desfrutando de algum momento, tal como uma viagem, uma festa, um passeio despretensioso,
  • quando lembro de momentos que se eternizaram em minha memória por ocasião da minha bem sucedida relação com o meu ex-marido,
  • quando ouço uma música e me pego chorando porque ela me reporta à algum lugar que me é muito querido e especial,
  • quando estou com um(a) amigo(a) e sou capaz de estar perto, mesmo que longe, pelos laços profundos que se realizaram naquela amizade,
  • quando sinto meu coração disparar por lembrar dos meus pais assistindo televisão de mãos dadas, todas as noites... ,
  • quando sinto cheiro de alfazema em lugar desconhecido e, por conta disso, me remeto à minha infância,...
Eu ficaria aqui dissertando uma infinidade de situações que me fazem sentir feliz: "orgasticamente" feliz, mas me falta a emoção da plenitude do amor, outra vez! E sem lamentação alguma, pois estou certa que não adianta procurar o amor, é ele que nos encontra - ainda que eu esteja em casa! Gosto de dizer aos meus clientes que quando o coração está pronto para amar ele chama o outro coração e vai em sua direção, porque simplesmente ele escuta o chamado. É... dias desses, eu estava no cinema com a minha filha mais nova e em uma das cenas a protagonista dizia: "não se pode ter tudo na vida"! E no meio do silêncio do cinema eu disse: Pode sim, filha! Acredite. O cinema veio abaixo de risos, com o meu comentário e a minha filha "morreu" de vergonha... "só você mãe..." em tom de reprovação... Mas eu acredito tanto nisso, que não pensei para falar... meu coração sentiu e minha boca pronunciou...
Pela manhã eu disse que não sabia a origem da minha tristeza, do meu vazio... mas agora... depois de exorcizar meus pensamentos eu encontrei a minha resposta...
A partir disso, estou convicta de que em minha vida, nesse momento, eu desejo que o amor me encontre e que a partir dele eu volte a vivenciar o orgasmo de uma relação e, assim, na plenitude do que se segue eu consiga realizar o encontro amoroso...
(Texto escrito e publicado em dez. de 2011)

sábado, 8 de março de 2014

Choveu dentro de mim

Eu sou casa!
Em mim eu habito
Reclusa  fechei as portas e janelas
Choveu dentro de mim
Um período curto - como é de costume: intenso e rápido
Meu corpo reagiu com força
Minhas veias sumiram da superfície, foram se proteger nas profundezas
A água foi tanta que houve curto circuito e alguns fios desencaparam
Tudo em mim ficou no escuro: meus olhos fecharam
Mas meus ouvidos permitiam que eu continuasse ouvindo a vida lá fora, através da voz dos meus amigos
A coluna cervical tremeu
Meus músculos enfraqueceram
Minha voz calou-se dentro de mim
Em tempo, chegou proteção externa
A chuva abrandou
As células agiram rápido na limpeza e arrumação
Como é bom conhecer o corpo e os sinais que ele dá!
Inteira abro as janelas e já enxergo o sol
Recomposta abro as portas e recebo a vida de volta!
Eu sou casa







terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Caixa de Costura

Venho costurando a minha vida
com linhas de saudade.
Procuro equilibrar-lhes a cor
para que o resultado final não seja triste.
Por vezes, é o cinza que insiste;
por vezes, impera o marrom.
Ainda bem que tem saudade bonita;
mudo o tom, amarro fitas,
busco a outra ponta do novelo;
intercalo a trama em amarelo.
A saudade é assim mesmo,
tecelã do tempo.
Quando menos se espera,
arremata o momento, leva embora,
deixa a porta encostada, o cadarço de fora,
e nunca avisa a hora de voltar.
Ainda hei de costurar com verde florescente
e, se a saudade chegar autoritariamente,
vai se sentir enfraquecida.
Enquanto procuro a cor,
vou costurando a vida,
sem saber qual vai ser o resultado.
Caso ele não fique combinado,
dou um nó, encosto agulha, guardo a linha,
que essa culpa roxa não é minha.
É uma artimanha branca do passado.
(Flora Figueiredo, in O Trem Que Traz a Noite, 2000)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sobre portas...

"A alma do homem é como água;
Vem do Céu
E sobe para o Céu,
Para depois voltar à Terra,
Em eterno ir e vir".
Goethe

Olhos de poeta...
Na manhã de hoje eu resolvi mergulhar em alguns alfarrábios e me deparei com o texto de Rubem Alves, A complicada arte de ver. Como está sendo bom começar o dia olhando com os olhos de dentro... começar o dia ensinando aos meus olhos a olharem para as coisas comuns como se nunca as tivesse visto. O resultado é que muitas coisas comuns, que eu vivencio no curso da minha rotina, não eram "olhadas" por mim, mas vistas... Acho que todos sabem dessa sutil diferença entre ver e olhar... Aquilo que eu vejo, de modo geral, é aquilo que é captado pelos meus olhos. Pois bem, para mim, a partir de agora, aquilo que eu olho é tudo o que eu posso ver.
No percurso do meu apartamento até a portaria esbarrei, logo de partida, com a porta cozinha... A porta da minha cozinha guarda por dentro as chaves de todos os moradores da casa: eu, Lorena e Juliany, e de quem mais chegar... Atrás da porta - ou na frente dela, dependendo do lugar de onde a olhemos - eu prendi um claviculário e criei o hábito de pendurarmos todas as chaves, ao entrar na casa. Ali, naquela simples porta, eu tenho um objeto que representa o fechar e abrir das vidas de cada uma de nós... Resolvi que eu sairia hoje, com a imagem do "abrir portas" para eu entrar em todos os lugares que se fizessem necessários a minha presença. Porta do elevador e ele ali, me esperando sem que eu precisasse chamá-lo... dentro, um espelho... que mulher não se olha no espelho do elevador? Eu! Saio tão apressada (e sempre adiantada porque odeio atrasar compromissos), que entro de costas e nem percebo que diante de mim estou eu, toda arrumada, cuidadosa com os detalhes - do perfume ao anel que vai no dedo... Sim, eu consegui ver o meu cheiro naquele espelho... Para sair dele - não mais do elevador, mas do espelho - outra porta... e de fácil acesso... os passos que me conduziram do hall de entrada - que para mim era de saída - pareciam de quem ia ao encontro de algo completamente novo... e era... cada planta daqueles jardins, cada brinquedo daquele play, cada criança que aguardava a van da escola, o porteiro, os seguranças... cada pessoa ou coisa daquela natureza me pareciam diferentes... Outra porta... e... alguém a abriu para mim... e o meu táxi estava lá... o mesmo diferente motorista... a mesma diferente estação do rádio... a mesma diferente conversa entre mim e o taxista... mais uma porta... para entrar e para sair... cheguei ao trabalho... mais uma porta... e outra... e outra... e outra... e todas as portas pareciam diferentes e todas foram abertas por mim ou para mim de forma diferente... e também fechadas... delicadamente fechadas... como no ciclo da vida... "em eterno ir e vir"...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Facilitadores de vida...

Quinta-feira, dia de Biodanza! Seria mais uma aula espetacular - como sempre - não fosse a bela homenagem que recebi do meu grupo regular! Pois é... a aula ficou registrada em mim e nas minhas filhas!
Despedidas nunca foram o meu forte. Sempre digo: nos encontramos na próxima curva... Assim é a vida para mim: encontros e desencontros sucessivos e potentes. Desde 2002 eu venho aprendendo a lidar com a vida, como se eu estivesse em uma montanha russa dessas bem altas e com descidas bem íngremes. Conforme o tempo foi passando, o aprendizado foi suavizando as descidas e elas deixaram de ser uma vivência assustadora, a media que eu fui percebendo que as chegadas eram sempre protegidas. Aprendi a acreditar em mim e isso me gerou confiança no outro. Aprendi a desfrutar do meio do caminho! Perdi o medo de abismos e me lançar em novos desafios passou a ser uma constante. Mais um fim de ciclo. E como todos os meus ciclos -  intenso e educativo!
O Centro Cultural Caravelas representou o meu desafio mais gostoso. Lá aprendi a coordenar equipes multidisciplinares, pluridisciplinares e transdisciplinares. Lá aprendi a transformar conflitos em produção. Lá aprendi que lidar com as diferenças é bem difícil, mas mega gratificante. Lá viabilizei com muita sutileza a importância de respeitar os limites do outro. Lá aprendi, principalmente, que na vida para ganharmos precisamos saber perder. Perdemos o espaço físico, mas ganhamos uns aos outros. Somos 19 parceiros que trabalham sempre muito de bem com a vida.
Obrigada Bruno Martins e Carolina Buoro, meus facilitadores de vida, pela sensibilidade de levar para o nosso encontro semanal  pessoas importantíssimas na minha vida. Todo o grupo esteve voltado para embalar e acolher mais um renascimento. Isso sim é um privilégio e uma benção! Ainda dando graças por vocês estarem em minha vida... Sim... Eu sou uma Fênix!
Amo cada um que aparece nessa foto...
Hora de recuperar o fôlego para novos e sucessivos renascimentos...

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

De quem é o problema?


Uma das coisas mais importantes que fiz por mim e pela minha família foi entender que só conseguimos ajudar quando nos damos conta de aquele problema não é nosso.
Pegar para nós uma questão que não nos pertence é tirar do outro a capacidade que ele tem de agir. É dizer, por outra linha, que ele não é tão capaz para resolver aquela questão quanto você! Nada nesse mundo é mais frustrante do que olhar uma pessoa que amamos como incapaz - qualquer portador de Esclerose Múltipla pode assinar embaixo do que estou falando -.E eu gosto de dizer que o olhar é nosso, se assim o enxergamos, quem dentro de nós se sente incapacitado? Eu vejo o mundo de fora como o meu mundo interno se encontra. Jamais esqueçamos disso...

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Cúmulo da coincidência

Todo o amor que vivo é o maior, o melhor, o mais intenso, aquele que jamais me imagino sem... até que ele acaba... Não existe O melhor amor, O maior amor, O amor insuperável. Quando atribuímos esse rótulo ao amor vigente desqualificamos todos os amores que vivemos e que nos trouxeram até aqui... Cada experiência de vida é única e deve ser vivida em sua plenitude, sem comparações!
Eu estava no metrô, sem meu livro escudeiro (troquei de bolsa). Minha distração foi prestar atenção na conversa de duas amigas que estavam atrás de mim. Elas falavam sem cerimônia, portanto, não me senti invasora da conversa alheia. E o melhor... Me fez refletir sobre as minhas relações! 
Uma delas - tinha em torno de 40 anos - falava com entusiasmo sobre o atual namorado. Até aí tudo normal. É comum sentirmos entusiasmo no início da relação e ficarmos propagando aos sete cantos esse amor - bem coisa de mulher! "Ele é lindo! O mais inteligente, o mais sensível, o mais bonito, o mais... o mais... o mais... Imaginei: o cara é o 'pica das galáxias'! Até que a amiga deixa escapar o nome do 'docinho' (era assim que ela se referia a ele). Putz... não pode ser... é muita coincidência! Mas um nome como o dele não é tão comum assim... Sim! Eu conheço a figura! E não... ele não é tudo aquilo, passa longe de ser o que aquela moça falava! Daí, eu me dei conta, que era assim para mim, não para ela... E, assim é para quem está apaixonado! Mas... o pior está por vir... Eu também conheço o ex dela... Conforme ela ia falando, a amiga ia entregando... tensa a parada! Lembrei do cara falando dela (que eu nunca tive o privilégio de conhecer), e isso tem pouco menos de 7 meses! Na ocasião, eles estavam apaixonados! E falavam até em casamento... Hilário... mas minha vontade (completamente reprimida, evidente) era entrar na conversa e defender o ex da moça! Era um tal de 'com o fulano isso não rolava, o ciclano faz isso por mim, mas o fulano era um sem noção'... Isso aqui tá bem reduzido - usei toda a minha capacidade de síntese para não cair na tentação de falar demais e acabar entregando as duas figuras!
Ao que interessa... Todo amor é amor do que se tem naquele momento. Comparar relações afetivas não é okay (não para mim!). A intensidade do amor deve ser mais do que suficiente para legitimar a relação e torná-la prazerosa - para quê comparações? Lógico que a pessoa que está ao nosso lado, naquele momento, é a melhor pessoa, para nós, do planeta! Do contrário, ela não estaria ali - ou pelo menos, não deveria estar! 
Essa questão me reportou a outra: Se a pessoa que está ao nosso lado não é a que gostaríamos que estivesse, se liga! Liberte o coração - o seu e o do outro! Nada pior do que nutrirmos uma esperança naquele que não tem mais a menor chance de continuar o caminho ao nosso lado... 
Tenho uma amiga - muito Cristã, diga-se de passagem - que sempre me diz que quando Papai do Céu nos dá a oportunidade de vivermos algo que desperdiçamos voltamos para o fim da fila, e essa fila é bem longa... Portanto, devemos à vida aproveitar as oportunidades que ela nos apresenta e honrá-las como gostaríamos que nós fossemos honrados! 
Não existe O melhor amor, gente boa! Existe o melhor amor daquele momento! E tão bom será se esse momento for até que a morte nos separe, porque se não for, que triste ficar na égide de um amor que não é mais nosso... Afinal, amar é o melhor presente que a vida nos concedeu! Que sejam lindos, todos os nossos amores, e os melhores de todos os instantes que se sucederem... Qualificar cada amor que passa pela nossa vida é qualificar a nossa capacidade de dar e receber amor! Regra básica: façamos com o outro o que gostaríamos que fizessem conosco... 
P.S.: Não curti saber que conheço os dois...
P.S.2: Muito cuidado com conversas em locais públicos... expomos pessoas, desnecessariamente!
P.S.3: O mundo é redondo (e sem essa de "jura?, eu não sabia!!, tá valendo o reforço, sem piadinhas)... Podemos nos encontrar novamente, em qualquer curva do caminho...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A escolha

"Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese científica. Mas o homem, por ter apenas uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese por meio de experimentos, por isso não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a seu sentimento". (A insustentável leveza do ser)

Pedro me excita às ideias, me conduz a um lugar que eu jamais imaginei que encontraria companhia, me alegra a vida, me arranca inspiração, me faz desafiar os meus próprios limites, me apresenta o desconhecido, me é companhia agradável e que não me faz desejar ir embora. Com ele desejo dormir e acordar, e, algumas vezes, fazer amor, quem sabe...
Antônio acelera meu coração, me rouba o ar, me arranca da racionalidade, me faz perder a noção de tempo, me distrai do trabalho, me sufoca de saudade, me faz sentir ciúmes do que não estou capaz de viver com ele. A ausência dele me tira o sono, vou do céu ao inferno em frações de segundos. Quando estamos juntos não durmo - cochilo!  

Com Pedro não preciso obedecer, não há ordens a serem cumpridas, não "temos que" nada, apenas somos um e outro quando estamos juntos e temos necessidade de sermos distintos - enriquecedoramente diferentes...
Com Antônio tem protocolo, registro de notas, marcação de desempenho e quando estamos juntos somos um só - fundidos pela necessidade daquela eternidade. Não há diferença que dê conta quando nossos corpos se misturam... Somos desesperadamente iguais na necessidade que temos um do outro...

A diferença entre mim e Pedro é marcada pela semelhança das vontades - aquela necessidade infindável de aprender o que um tem a acrescentar ao outro... não há disputa em saber quem é mais útil a quem: sabemos que até nosso silêncio é bem vindo...
A semelhança entre mim e Antônio situa-se na diferença das nossas realidades  - É a  negação de uma das duas vidas que torna possível a nossa existência enquanto casal...

Antônio me faz sentir leve depois de uma noite de amor, enquanto Pedro me apresenta a importância do peso da sua cumplicidade. Pedro é a pluma que me faz seguir a direção do vento, sem medo de errar o caminho. Antônio é pedra que me atormenta quando necessito ir embora. Pedro é pedra que se transforma em totem enquanto caminhamos juntos. Antônio é pluma que não se sustenta sem as suas raízes. 

Pedro e Antônio são amores diferentes num mesmo caminho. Caminhar com Pedro é seguir sem os disparos do coração, acreditando na cumplicidade do amor. Escolher Antônio é percorrer com coração na boca, acreditando na capacidade de viver apaixonada... Toda escolha implica numa renúncia, que nos traz uma aquisição. Para ganhar é preciso saber perder. A vida não permite segunda chance ou ensaio para sabermos se dará certo. Em algum momento é preciso correr o risco!
Apostei  desde aquele instante presente que a minha escolha era a melhor que eu podia fazer. E ao decidir entre Pedro e Antônio fiquei sem os dois. A vida não me deu tempo para escolher entre um e outro, e eles seguiram sem mim... Mas, amadurecer a escolha também foi uma escolha...